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É dom do mar a liberdade










Peito com lonjura
no eterno escafandro.
À tona, o mar guarda a proa.
Nas fontes,
a vontade da terra
jorra azul.
Vai
como as aves,
zarpar na madrugada
a inocência.

Entre os abismos,
o mar acorda a ferocidade.
Nas veias do sol,
na vibração do vento.
As águas lavram geografias e quimeras.
A liberdade.
é dom do mar.

No fundo, sombras em metamorfose.
Dormem pretéritos.
Entoam bravuras.
Sob o ouro das estrelas
nascem liras e pensamentos
de cidades idas.
Crescem mitos e labirintos,
nas rochas amadurecidas
sem tempo.

Volante das águas,
a lua talha a face do universo.
Na viagem
abre gargantas extáticas,
moldadas nas altas torres frias.
Sob o sol
arde o gelo,
cortado pelo gume do fogo.

Quase aéreo,
o mundo permanece
preso à espinha da raiz.
Mais próxima da alma
ficam as estações.
São como mulheres
pelo lado de dentro,
levam no regaço
o voo
do êxodo.

O mar
cresce de véspera no fundo.
Cresce em vertigem sobre as dunas.
Mas a água rachada
não ofende o leme.
No horizonte
vai nu
o barco.
É dom do mar
a liberdade.








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Gosto do mar quando está à conversa. Cicia à espuma. Sobre a areia nua. Sinto a vontade de ter uma lágrima. A pulsar como a semente. Sem palavra. Sem escuta. Gosto do mar quando está à conversa. Põe-me num sono bolino. Como no embalo junto ao peito. Gosto do mar quando está à conversa. Encontro-me com o ontem, como saísse da minha mãe. Gosto do mar quando está à conversa. Exalta-me como som de violino.

passo a passo

passos, em passos vão e em vão passam. com os primeiros, o que é longe, a perto chegarão. se lentos, apressam-se. em roda enganam o tempo. inquietada a alma irá em passos perdidos. nas areias, em passos se tropeça. passos, não sepultam pedras. o caminho,  com passos se faz a cada um, um passo jaz. passo a passo,  entre passos, caminha-se na vida. com passos seguros, se vai sem temor ao dia. em passos largos, na noite vem o comprimento do medo, no eco da rua ou entre paredes. do passo atrás, ao  passo em frente, passos sem fim. passo a passo para o passo da liberdade. Zita Viegas

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