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Mensagens

A mostrar mensagens de 2017

Só o cenário faz esquecer o tempo.

Deixar-nos transportar no tempo. Aprender a ter saudade de fado nenhum para com clareza de consciência chegar   ao lugar. Porque longe é lugar nenhum. Se não fugirmos, nem o perseguirmos ele simplesmente não existe. O tempo não se ganha, nem se perde só na poesia e na filosofia subsiste. O dia de hoje vai atrás do dia d`amanhã. O tempo passa em qualquer caso, sempre. Só o cenário faz esquecer o tempo. Chama-se romance a este esquecimento. Zita Viegas

virgem

"A virgem", https://www.moveisonline.pt/quadro_a_virgem/p30773.html Numa lentidão de brasa o espadim rasga  o dom de seres menina. Rasga a delicada renda como a andorinha rasga em o voo a primavera. Não é ferida a carne viva da tua pele mais fina. É cicatriz onde nasce a promessa de ser mãe e a cura para a sede da vida. Zita Viegas

geografia da ausência

quando me falas na partida sinto a distância como mármore e no cinzento do olhar vejo a mágoa do Inverno. A saudade alonga-se, alonga-se com a presença da partida. Com linhas e frio dos pólos revelas a geografia da ausência. Zita Viegas

no fundo dos olhos

Do levante, no azul profundo chegas nas marés para me ofereceres o teu sonho. Chegas na corrida do vento e deixas o sibilo nas bocas com vontade de serem amadas. Em mistério, abres fundo as margens e anuncias nos teus olhos as palavras que nos unem. Como a poesia une os sentidos, eu uno-te dentro de mim. Ofereces-me a barca, eu tomo-a. Entro no rumo da onda e no instante em que soltas o olhar fundo-me em ti sem demora. No momento mais azul, os teus olhos acordam o mar. Na imensidão, nascem duas aves que se unem numa só e no fundo dos olhos sonham. Zita Viegas

no horizonte vejo o invisível

No horizonte em seda vejo a existência do teu amor e na linha curva, o sonho que nasce do espasmo.  Vem com a cor do oriente  aos meus olhos se prender. Perante a lonjura incriada, cerro os olhos e guardo a cor do momento. No horizonte.  nasce dentro de mim o tempo das coisas belas que se talham com a leveza da luz e com o afago da palavra inteira.  É no horizonte que vejo as raízes da alma verdadeira. Perdoa-me! Perdoa-me, se não nascem em mim palavras de anjo, nem o vício perpétuo do desejo das noites contigo, aquelas que unem os corpos em mistério e no prazer que dura no beijo. Confesso que é no horizonte que vejo a ilusão do sonho  pois o amor nasce da paixão.

caio de amor por ti

https://www.google.pt/searchtbm=isch&q=outono+de+amor+estilizado&spell=1&sa=X&ved=0ahUKEwiDxM7goKrXAhUEORoKHTeiDGsQvwUIIygA&biw=1280&bih=679&dpr=1#imgrc=oWcrZuqskEDx7M: Caio de amor  por ti como a folha calma e calada cai atraída pelo Outono, eu de amor por ti caio. Indomavelmente silente, louco e perdido tão quedo vou até onde o sol se divide em raio e em luz que dos meus olhos se solta a alegria da terra e a vontade de Deus. Caio de amor por ti. mudo como o vento  que sente os vales e eu neles me adentro. Sinto o delírio e neles afundo com a força de um rio para me abrigar nas margens curvas de ti.  Num silêncio cúmplice, dás-te a mim  e eu deixo partir o suspiro,  em beijos ágeis e leves numa dança de libélula.  Pouso,  pouso em ti, no teu profundo céu sem me deter, busco as tuas grutas rosadas onde caio de amor por ti. Zita Viegas

Jerónimo e o jardim das delícias terrenas

Pormenor do  tríptico de " O Jardim das Delícias Terrenas" de Hieronymus Bosch O olhar gigante traz luxúria na ondulação da mão  e fecunda com sangue o verbo que fermenta o pecado. As mãos em criação pintam brancos corpos homens a cavalo, orgias banhos de Vénus anémonas e flora pubescentes. A criação terrena em festim extasia os corpos híbridos amantes nus e seres virginais em etérea copula animal. A cada desinibido deleite a cor vermelha do erótico, entre paraíso e apoteose a exaltação da gaita de fole e as mãos em vício d`onã. Os frutos das entranhas das siderais criaturas  nutrem o jardim das delicias em acrobacia carnal.  Com lascivas metáforas Jerónimo pinta no girassol o voltear do mundo e a inocência do jardim que gravita no pecado original. Zita Viegas

poeta, o que é a vida?

amargo dulçor, verdade em grãos de desejo numa sensualidade de música  a  vida  entre pêndulo. prazer e plano em celeridade em começ o  e recomeç o. é de lágrimas a paisagem: chora  o  homem   as fissuras do tempo na proteína sofrida  pergunto-me e pergunto-te o  que é a  vida ? adio a resposta, pois só tu  poeta sabes das lembranças do futuro e as linhas que  o  criam. passantes e passageiros buscamos os remos  em rito, mistério e memória debruçados no destino ao longo da sua convocatória em infinitas águas lançado. o  corpo é âncora com medo de morrer numa vontade de ser eterno. sem pasmo, em busca, corrida uma respiraçã o  entre outra da experiência nascida do amor a única prova de  vida é  o  que conduz à morte, num caminho de epifania. experiência primitiva de ser numa criaçã o  permanente do novo relaçã o  erótica, de  vida  e morte poeta ,  o  que é a  vida ? Zita Viegas

em tom azul de mirtilos

onde há azul nasce um pássaro  e com o mar ao lado  chega um barco  onde soa a partida  brotam ondas com raízes com choro do fundo do mar a sombra caminha, nasce o sabor do hausto de vinho  tomado no vento da noite  entre lábios em afonia na manhã, n a ribalta do Verão nascem embriagados  abraços e suspiros   em tom azul de mirtilos  Zita Viegas