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Jerónimo e o jardim das delícias terrenas

Pormenor do tríptico de "O Jardim das Delícias Terrenas" de Hieronymus Bosch


O olhar gigante traz luxúria
na ondulação da mão 
e fecunda com sangue o verbo
que fermenta o pecado.
As mãos em criação
pintam brancos corpos
homens a cavalo, orgias
banhos de Vénus
anémonas e flora pubescentes.

A criação terrena em festim
extasia os corpos híbridos
amantes nus e seres virginais
em etérea copula animal.
A cada desinibido deleite
a cor vermelha do erótico,
entre paraíso e apoteose
a exaltação da gaita de fole
e as mãos em vício d`onã.

Os frutos das entranhas
das siderais criaturas 
nutrem o jardim das delicias
em acrobacia carnal. 
Com lascivas metáforas
Jerónimo pinta no girassol
o voltear do mundo
e a inocência do jardim
que gravita no pecado original.

Zita Viegas



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Gosto do mar quando está à conversa. Cicia à espuma. Sobre a areia nua. Sinto a vontade de ter uma lágrima. A pulsar como a semente. Sem palavra. Sem escuta. Gosto do mar quando está à conversa. Põe-me num sono bolino. Como no embalo junto ao peito. Gosto do mar quando está à conversa. Encontro-me com o ontem, como saísse da minha mãe. Gosto do mar quando está à conversa. Exalta-me como som de violino.

passo a passo

passos, em passos vão e em vão passam. com os primeiros, o que é longe, a perto chegarão. se lentos, apressam-se. em roda enganam o tempo. inquietada a alma irá em passos perdidos. nas areias, em passos se tropeça. passos, não sepultam pedras. o caminho,  com passos se faz a cada um, um passo jaz. passo a passo,  entre passos, caminha-se na vida. com passos seguros, se vai sem temor ao dia. em passos largos, na noite vem o comprimento do medo, no eco da rua ou entre paredes. do passo atrás, ao  passo em frente, passos sem fim. passo a passo para o passo da liberdade. Zita Viegas