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a ausência



A janela converte-se em espelho.
No tardar de ser, vem a certeza.
Por entre o frio do tacto e o olhar quebrado.
O céu segue vertendo embriaguez
e a árvore reclinada medindo o tempo.

Vem contida no sangue, a ausência.
Vem, como tarde cega que procura
a cadência da papoila entre o trigo.

Em lamento, o coração ondeia,
efémero e maduro.
Conta o tempo. Estima o instante.
Como asa que espera o vento.

Mas o corpo permanece,
sobre os ombros de si próprio.
Na sua travessia, compõe a ausência,
em afirmação de partida.



Zita Viegas





O poema d'hoje não é diferente - Poemas

Fotografia de Jorge Santos https://plus.google.com/+JorgeSantos-namastibet









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