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Solitário




Resultado de imagem para sem abrigo
https://www.google.pt/searchq=sem+abrigo&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwion7iE2qLXAhUDWRoKHbYTBIoQ_AUICigB&biw=1280&bih=679#imgrc=tfMp3T-OUJ_yPM:
                                         


O olhar tocado pelo plúmbeo

adormecer das ruas da cidade despovoada

e nos pés plantados de cansaço

rumorejam no empedrado fundo de engano.


Entorpecidos vagabundos do tempo

fundam nos bolsos mãos anémicas

vítimas sem recursos que tecem ansiedades

 e fendem pensamentos em atalhos.


Mitigam odores cores e frestas

procuram um laço, um sorriso, um ombro

sentindo a palidez na boca

de um pacífico caule da mortalha descontinua.


Passos ocos atravessam a noite

num adormecido quadro

de horas cismadas,

sem choro, no riscar dos dias

a lâmina da noite, faz febril o corpo.



Na concha da mão envelhecem

perturbando a solidão

que o gatilho da esquina guarda

para num só esforço, suspirarem

tentações e subirem no esquecimento.


Zita Viegas



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Gosto do mar quando está à conversa

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passo a passo

passos, em passos vão e em vão passam. com os primeiros, o que é longe, a perto chegarão. se lentos, apressam-se. em roda enganam o tempo. inquietada a alma irá em passos perdidos. nas areias, em passos se tropeça. passos, não sepultam pedras. o caminho,  com passos se faz a cada um, um passo jaz. passo a passo,  entre passos, caminha-se na vida. com passos seguros, se vai sem temor ao dia. em passos largos, na noite vem o comprimento do medo, no eco da rua ou entre paredes. do passo atrás, ao  passo em frente, passos sem fim. passo a passo para o passo da liberdade. Zita Viegas

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