Avançar para o conteúdo principal

Noites são casas onde as mulheres se demoram



frascoperfume













Noites são casas onde as mulheres se demoram. 
Há paredes e fustes sitiados de rostos. Silêncios aplainados às portas
e janelas que guardam os segredos da carne.
Noites são casas que têm mulheres dentro, como escadas que os homens sobem, degrau a degrau.
Noites são casas cheias de estrelas áridas,
paradas nos olhos das mulheres. Têm luzes rachadas,
abertas nas faces tingidas com solidão e amargo pudor.  
Casas são femininos nocturnos, onde entram noctívagos
com olhares selváticos em agonizante êxtase.
Casas com mulheres que adornam a carne quebrada, o regaço batido e o sono da fadiga. 
Noites são casas vestidas de pele que se cobre de pérolas frias 
e de correntes adormecidas no peito.
Casas são noites com mulheres que guardam espadas de amores bárbaros
que na ilharga penduram países, terras inimigas e cidades longínquas.
Noites são casas onde as mulheres se demoram para ouvir o tambor que ecoa no sangue e a ferida que fala com a fome da cura.
Noites são casas onde as mulheres se demoram como espelhos contra o tempo da carne.




Zita Viegas

Comentários

Mensagens populares deste blogue

o melro

na travessia leva o lusco-fusco. voa veloz para anoitecer a árvore. com o bico em pranto  fere o dia, sem ferir o canto. Zita Viegas

passo a passo

passos, em passos vão e em vão passam. com os primeiros, o que é longe, a perto chegarão. se lentos, apressam-se. em roda enganam o tempo. inquietada a alma irá em passos perdidos. nas areias, em passos se tropeça. passos, não sepultam pedras. o caminho,  com passos se faz a cada um, um passo jaz. passo a passo,  entre passos, caminha-se na vida. com passos seguros, se vai sem temor ao dia. em passos largos, na noite vem o comprimento do medo, no eco da rua ou entre paredes. do passo atrás, ao  passo em frente, passos sem fim. passo a passo para o passo da liberdade. Zita Viegas

intimidade

a paixão na altura do peito molda a  flor tecida no leito da boca com rosada cor, brota a seiva no primeiro suspiro da leiva do ventre frondoso e macio, brota o rebento da funda raiz silente do corpo desperto na manhã, rasga-se o botão e a pétala  abre-se em defloração Zita Viegas